Professor do Case ganha prêmio nacional com projeto de tecnologia desenvolvido com adolescentes que cumprem medidas socioeducativas

Foto: Beto Albert (Diário)

No final de fevereiro, um projeto da Escola Estadual Humberto de Campos, anexa ao Centro de Atendimento Socioeducativo Regional de Santa Maria (Case), recebeu reconhecimento nacional. Isso porque o professor Henrique Corrêa Lopes foi o vencedor do melhor projeto de tecnologia, do Prêmio Professor Porvir na Educação, promovido pelo Instituto Porvir, plataforma de conteúdos e de mobilização sobre inovações educacionais do Brasil.

Desde 2022, o professor realiza oficinas no laboratório de robótica da instituição com os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas. No local, os menores podem construir produtos diversos com impressora e caneta 3D, além de máquina a laser. Esses materiais são fornecidos para outras escolas da cidade ou comercializados para pessoas que têm interesse em adquirir.

– É um prêmio que envolve muito trabalho e dedicação. Foi uma surpresa. Quando me ligaram, eu estava no laboratório, chorei, foi uma emoção muito forte. Estou passando por isso com meus 50 anos de vida, mas foi uma grande surpresa. É um prêmio que chegou na hora certa para dar visibilidade para a escola e para o trabalho feito aqui dentro de uma instituição de atendimento socioeducativo. Isso é importante. Foi uma alegria e, agora, é esperar receber o prêmio, estamos ansiosos – afirma o professor.

A entrega da premiação está marcada para maio, em São Paulo. As despesas de viagem, alimentação e hospedagem dos vencedores vão ser pagas pela organização do evento. A programação prevê homenagens, apresentação das práticas premiadas e debates sobre os desafios da educação.

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Escola e adolescentes do Case comemoram o prêmio

O prêmio recebeu mais de 1 mil inscrições no país. Desse total, 32 trabalhos foram selecionados e 11 foram premiados. O professor Henrique é o único representante do Sul do Brasil que conseguiu vencer em uma das categorias. Na escola, o reconhecimento foi comemorado pela equipe da direção:

– Sentimos uma alegria imensa por receber esse prêmio e mostrar para a sociedade que temos uma escola aqui, que faz de tudo para ser diferente. Tem uma frase que levo muito comigo que é “estamos aqui não para mudar o caminho de ninguém, mas para mostrar novos caminhos”, para mostrar que eles têm novas oportunidades e condições de trilhar um caminho diferente – relata a diretora da escola, Carla Hernandez Flores.

Foto: Beto Albert (Diário)

Os adolescentes que participam das oficinas também ficaram felizes com o prêmio. Mateus*, 16 anos, conta que ele e os colegas acompanharam no rádio as entrevistas que o professor Henrique concedeu aos veículos de comunicação da cidade, como na CDN, do Grupo Diário.

Mateus, que está no 2º ano do Ensino Médio, já cumpriu a maior parte da medida socioeducativa (1 ano e 1 mês). Ele espera que os aprendizados que teve no laboratório possam ajudar após a saída do Case, daqui a cinco meses.

– Trabalhei na rádio e no podcast da escola, na oficina de mídias e tecnologias digitais. Foi muito massa. (Agora) a gente vem (no laboratório de robótica) na sexta-feira, e trabalhamos com madeira e máquina 3D. Fazemos as coisas tanto para a escola quanto para levar para casa. Sou de uma cidade do interior, e lá é muito difícil ter essas coisas. Quando vim para cá, tive conhecimento disso. (Quando sair) quero ver uma área em que possa utilizar o conhecimento da oficina com o que aprendi aqui – diz o adolescente.

*Nome fictício para proteger a identidade do jovem entrevistado no Case

“Trabalhamos, ensinamos e mostramos o que a tecnologia pode proporcionar”, conta o professor

O laboratório foi instalado em 2022 na escola. Naquele ano, a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) recebeu 13 laboratórios de robótica para cada um dos Cases no Rio Grande do Sul. O professor Henrique, que é especializado em História e trabalha no Case de Santa Maria desde 2019, conta que teve interesse em participar da nova atividade. A partir disso, ele realizou uma capacitação para aprender a manusear os equipamentos e ensinar os adolescentes.

– Trabalhamos muito com madeira, que utilizamos na máquina de corte a laser, e com filamento plástico, PLA, que é o ideal para impressora e caneta 3D. Tentamos produzir objetos para uso geral, decorativos e, também, pedagógicos. Os alunos que produzem na oficina podem, quando estiverem em sua liberdade, levar para casa. Os pedagógicos utilizamos no dia a dia da escola. Já fizemos materiais para história, geografia e matemática. Trabalhamos, ensinamos e mostramos o que a tecnologia pode proporcionar. Dependendo do período, é quase uma brincadeira, é algo relaxante porque podemos discutir um projeto e montar algo diferente – explica Lopes.

Em 2023, a oficina desenvolvida no laboratório de robótica da escola também foi vencedora na categoria tecnologia da etapa regional da Mostra Científica, Cultural e Tecnológica Steam Party, evento promovido pela 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE).

Foto: Beto Albert (Diário)

A escola

A Escola Estadual Humberto de Campos existe desde 2008 na unidade do Case, em Santa Maria. Em 2018, a estrutura se desvinculou do prédio do Case e foi montada em um anexo à unidade.

Todos os adolescentes que estão internados no Case devem frequentar a escola, que oferece as modalidades de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além da oficina de robótica, também estão em funcionamento as atividades extras voltadas para podcast e psicologia, sendo a última realizada em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente, a equipe conta com 22 professores, quatro funcionários, e duas representantes da direção.

O Case de Santa Maria

O Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) recebe adolescentes que cometeram atos infracionais dos 14 aos 19 anos e que estão em atendimento pelo Estado. Em Santa Maria, atualmente, 25 adolescentes vivem na unidade, que tem capacidade para até 39 jovens.

A idade média dos internos é de 17 anos. Dentre todos que estão no Case, apenas nove jovens são naturais de Santa Maria, o restante é de cidades da região. A maioria dos adolescentes cumpre medida socioeducativa por homicídio e tentativa de homicídio. Em menor escala, também há registro dos crimes de roubo e tráfico de drogas.

Segundo o vice-diretor do Case de Santa Maria, Rogério de Menezes, apesar das atividades oferecidas dentro da unidade, a maioria dos jovens não tem apoio após a saída e acaba retornando:

– Ficamos tristes porque fizemos um baita de um trabalho, só que, muitas vezes, eles não têm o suporte necessário para poder dar prosseguimento na vida deles, para poder sair da vida do crime. E o que acontece é que eles acabam cometendo um novo ato infracional e voltam para a unidade.

Foto: Beto Albert (Diário)

Rotina

O local é dividido em dois setores, que realizam atividades em turno inverso. Além das aulas na escola e da prática de atividades físicas, os internos têm atendimentos técnicos no Case com psicólogo, assistente social, dentista, enfermeira e pedagoga, por exemplo.

– Temos visitas nos finais de semana, sábado, domingo e na parte da sexta-feira também, principalmente, para os adolescentes que têm familiares de outras comarcas, porque o Case Santa Maria abrange 44 municípios. A casa funciona 24 horas por dia, existem dois turnos, o dia A e a noite A, o dia B e a noite B. Ou seja, a casa não para nunca, tem que ter continuidade – destaca o vice-diretor do Case.

Em torno de 80 funcionários trabalham no Case. De acordo com o vice-diretor, há defasagem neste quantitativo, e a equipe está aguardando a nomeação de novos agentes socioeducadores que já realizaram concurso público.

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